Postagem em destaque

Nova plataforma!

Prezadas leitoras, prezados leitores, estamos com uma nova plataforma de conteúdo, lançada em junho de 2017. As reportagens são produtos tr...

Escassez de água inédita no DF já é rotina

Alguns reservatórios já entraram em estado de alerta e regiões do Distrito Federal sofreram cortes no abastecimento. A previsão é de um aumento de 60% na captação de água.

Abre-se a torneira, e só vem um filete de água. Abre-se mais, e não sai nada. Somente quem já ficou sem água, por pelo menos um dia, sabe o que isso realmente significa. Imagine ficar uma semana, um mês e depender de caminhões pipa para as ações rotineiras, como tomar banho e cozinhar.  O Distrito Federal chegou a uma situação que nunca havia passado e, hoje, pelo menos cinco regiões da capital federal vivem tempos de racionamento de água. Tempos estes que nunca haviam passado pela capital federal, mas que hoje pode ser combatido com o uso consciente de cada cidadão. 


A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) abastece 98% da população, o órgão afirma que os principais motivos para o longo período de escassez são a falta das chuvas e o alto consumo de água no período mais quente. A empresa ainda afirma que, no caso dos sistemas isolados de captação, que abastecem Brazlândia, Sobradinho, Planaltina, São Sebastião e Jardim Botânico, houve uma diminuição brusca da vazão dos córregos e ribeirões em função da forte seca e concorrência de irrigantes na região. 

A Caesb afirmou que houve cortes nas regiões de Sobradinho, Planaltina, Jardim Botânico, São Sebastião, Brazlândia, e que eles não duraram mais de 24 horas. O comerciário Claudio Cordeiro Maciel, 49 anos, foi um dos que ficaram sem água e afirma que não esperava que isso acontecesse. “Jamais imaginei que esse dia chegaria. Muito embora tivéssemos sido avisados mas jamais acreditei que aconteceria, afinal, sempre tivemos uma água deliciosa e em abundância”. Claudio chegou a ficar por mais de 24 horas sem abastecimento, incomodado com a situação, buscou alternativas para solucionar o problema. “No desespero procurei um pedreiro e sem me preocupar com valor contratei seus serviços, comprei material e ergui uma caixa d'água. Uma despesa que não estava no orçamento”, desabafa.

A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) realiza programas educativos de economia de água. Segundo o coordenador de fiscalização da Superintendência de Abastecimento de Água e Esgoto da ADASA, Igor Medeiros, foram publicadas quatro resoluções que auxiliam na contenção do desperdício de água e outras medidas de fiscalização também foram tomadas.” Uma série de ações junto aos produtores rurais, postos de combustíveis, caminhões pipas, parceria com órgãos para atuar na fiscalização das medidas propostas, como polícia militar ambiental e outros”, afirma.

A estudante Laianna Victoria, de 24 anos, faz o uso consciente da água. Além de não deixar as torneiras abertas e pegar a água da chuva com baldes, ela realiza métodos de reaproveitamento. “Eu reutilizo a água da máquina de lavar para fazer a limpeza da varanda, enxaguo a louça toda para ensaboar e colocar no escorredor, além de usar a água do balde do pano de chão na descarga”. Laianna não adota medidas de economia apenas em tempos de crise hídrica. Quando morou em Riachão do Jacuípe, interior da Bahia, aprendeu a fazer o uso consciente da água devido à escassez constante na região. “Já passei situações terríveis lá, uma vez ficamos 15 dias sem água, isso devido tanto pela escassez quanto pela infraestrutura. O normal lá é faltar em um horário certo e depois voltar um dia depois ou dois”, conclui.

A Caesb afirma que, não há nenhum tipo de multa que venha a ser aplicada às pessoas que consumem água indevidamente, mas os que excedem os gastos e acabam pagando mais. O órgão classifica o desperdício quando a água é utilizada para fins não essenciais como lavar a calçada, o carro, deixar torneiras e vasos sanitários com a descarga vazando, tomar banhos prolongados, escovar os dentes com a torneira aberta e outras atividades semelhantes. Ainda segundo a Caesb, essa água, mesmo considerada desperdiçada, passa pelo hidrômetro e não representa uma perda para a companhia, que possui uma capacidade de 9506,1 L/s. A região que mais gasta água é a do Lago Sul com 417 litros por habitante/dia seguido por Brasília com 345 litros. E a que mais economiza água é a Fercal, com 62 litros por habitante/dia seguida por Itapoã, que gasta 67 litros.

MONITORAMENTO E AMPLIAÇÃO

A Adasa faz o monitoramento diário dos níveis de água dos reservatórios do Descoberto e de Santa Maria que, segundo o órgão, abastecem, respectivamente, 60,74% e 28,05% do total de água tratada pelo sistema de abastecimento do DF. Em um período de um mês, do dia 09 de setembro ao dia 09 de outubro, o do Descoberto teve o volume útil reduzido de 43,84% para 31,12%. Isso o coloca em estado de alerta, que vai de 21% até 40%. O de Santa Maria foi de 52,08% para 46,03% considerado estado de atenção, porém, muito próximo ao de alerta. No dia 14 de novembro, o reservatório do Descoberto já estava abaixo dos 20%, e o de Santa Maria em 40%, o que permitiu à Caesb fazer o racionamento programado em todo o Distrito Federal. Além disso, o órgão também monitora a diferença do volume mínimo em relação ao dia anterior, a evolução do volume útil mensal e faz o comparativo dos ciclos de 2015/2016 e 2016/2017. No Descoberto, o volume útil em outubro de 2015 atingiu o valor de 51,9%, já em outubro de 2016 esse valor estava em 26,8%. No mesmo mês, em Santa Maria, os valores foram 83,5% em 2015 e 44% 2016. O site da Agência atualiza os valores, em média, a cada duas horas.

A Caesb vem tomando algumas medidas para aumentar o abastecimento de água no Distrito Federal. “A nossa expectativa é que com essas obras a capacidade de produção de água potável aumente em 60%”, afirmou o presidente da Caesb, Maurício Laduvice.  O Sistema de Corumbá vai ser construído em parceria com o estado de Goiás. Já no mês de outubro, as obras do Sistema Bananal foram iniciadas, elas vão aumentar o sistema de abastecimento de Santa Maria/ Torto que atende cerca de 22% da população e a previsão de término para as obras é no final do ano que vem. As licitações para o sistema que vai captar água no Lago Paranoá foram encerradas, e as obras devem começar em 2017.

O professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Sérgio Koide, afirma que a situação não é boa no que diz respeito a novas construções. “A situação hoje é de problemas de recurso para a construção de captações. Há um risco de termos uma situação de precariedade de atendimento em médio prazo. Não estamos numa situação confortável. Estamos trabalhando em cima de prazos apertados”, finalizou.

Acompanhe aqui o nível de água diário de Santa Maria e do Descoberto.
























Por Eduardo Magno
Imagem torneira: Rafael Neddermeyer / Fotos públicas