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Cesárea como regra: os desafios de optar pela humanização

Mulheres enfrentam os mitos criados pela cultura brasileira para dar à luz de maneira natural

A descoberta de uma gravidez, na maioria das vezes, vem rodeada de alegria. Toda a preocupação e preparação para receber o bebê da melhor maneira possível já é iniciada desde o primeiro momento. Mas, muitas vezes a forma de colocar o bebê no mundo não é nem ao menos questionada — “vai ser cesariana”. No Brasil, o índice de partos cirúrgicos é altíssimo — cerca de 84% na rede particular e 52% na rede pública. O problema é que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda somente 15% como taxa aceitável.

Grávida aos 21 anos, a pedagoga Clara Cabral teve que pensar na difícil decisão de como daria à luz a filha Helena, hoje com 2 anos. Apesar de algumas mulheres da família terem tido bebês em casa, para ela essa questão ainda não estava certa. Muitas pesquisas e consultas foram feitas antes de decidir que a menina nasceria ali mesmo, em casa. “Quando decidi, fui contar ao meu namorado. No início ele ficou inseguro, preocupado principalmente com possíveis complicações. Mas fomos conversando e no final já estávamos certos de que teríamos um parto domiciliar”.
Parte da família questionou a decisão do casal e alegaram que tudo isso era “invenção de moda”. Para os que não têm acesso a esse tipo de informação, a opção mais simples e segura é o hospital. “Eles tinham medo que desse algum problema na hora, mas como eu já tinha me empoderado sobre a situação e motivos da minha escolha, conversei com todos argumentando os fatos e os tranquilizando”. Foi assim que Helena veio ao mundo em casa. E dois anos depois, o Bernardo.


A doula Adèle Valarini conta que, por medo de sofrer qualquer tipo de violência, muitas mulheres têm optado pelo parto humanizado com auxílio de uma doula e uma equipe médica específica para dar à luz. “Durante o parto a mulher fica extremamente vulnerável, e se ela for maltratada ou violentada nesse momento, ela se diminui por muito tempo”. E completa: “É essencial ter respeito quanto aos desejos e direitos dessa mulher e o parto humanizado é uma forma de colocar a mulher em uma posição de protagonista e sair como grande”. Para ela, a cesárea é uma opção extremamente útil e, quando indicada e feita de maneira respeitosa, é tão maravilhosa quanto o parto natural. “O problema é quando é feita como linha de produção, sem indicação, sem troca de olhares com a mulher e tudo mais”.
A vontade da arquiteta Ana Karla Veloso, 35, sempre foi que os filhos nascessem de forma natural. Foi assim que as duas filhas, Cecília, 4 e Olívia, 3 meses, nasceram de parto normal, mas de formas diferentes — Cecília nasceu no hospital sob anestesia, enquanto Olívia nasceu sem qualquer interferência médica, em uma casa de parto. “Não tinha consciência da dificuldade de ter parto normal, até minha irmã ficar grávida e na 40a semana, o obstetra colocá-la na indução e afirmando que a cesárea seria a melhor opção”. Assim, antes mesmo de engravidar, Ana Karla fez questão de procurar um obstetra que entendesse e respeitasse a vontade de fazer o parto natural.
“Encontrei uma obstetra legal, passei todo meu pré-natal dizendo que queria parto normal e apesar dela me dizer que cobrava por fora, decidi seguir com ela já que senti uma certa segurança”. Durante a gestação, a arquiteta listou todas as possíveis complicações que poderiam aparecer no último momento e tornariam a cesárea a única opção. Todas elas foram conversadas com a médica para que não houvesse desculpas na hora H. Quando chegou a hora de dar à luz Cecília, tudo ocorreu como esperado, mas mesmo assim houve um certo pânico de hospital. “Ela nasceu e logo tiraram ela de mim, fiquei muito pouco tempo com ela, sendo que era um momento que eu prezava muito”.

               Ana Karla no momento do nascimento da pequena Olívia, 
                        com o marido e a filha mais velha.
E, apesar de nunca ter se imaginado com um filho em qualquer lugar que não fosse o hospital, na segunda gestação, Ana Karla decidiu que queria algo totalmente humanizado. Com o apoio do marido e respeito da família, ela teve certeza de que era isso que queria. “Não me arrependo do parto da Cecília, mas o parto da Olívia foi muito bonito e especial. A equipe que contratei me passou muita segurança, foi uma decisão maravilhosa!”. A arquiteta se apaixonou pela área e decidiu fotografar partos, além de fazer um curso de doula. “É algo que me traz muita satisfação”.

O PARTO NATURAL
O médico obstetra Braulio Zorzella trabalha com partos há 16 anos e, desde o primeiro a que assistiu, teve a certeza que era com isso que queria trabalhar. Sempre incentivador dos partos humanizados, Dr. Braulio explica a importância de promovê-los de forma natural. “A princípio, até que se prove o contrário, o parto normal é o mais saudável e seguro nas gestações, então normalmente essa é melhor opção tanto para mãe, quanto para o bebê”. Porém, ele não hesita em realizar cesáreas quando necessário. “Acho legal ressaltar que não é porque o parto acaba em cesárea que ele deixa de ser humanizado. Começamos querendo o parto normal e vamos até onde é possível para realizá-lo dessa forma, mas se tiver que ser feita uma cesárea, nós faremos. Isso é diferente de cesárea com hora marcada”.

Para ele, o grande receio das mulheres em optar pelo parto normal na atualidade se deve ao medo da dor, à desconfiança e à falta de informação. Muitos médicos que se formaram no século XX foram ensinados que o método tradicional de realizar um parto é a episiotomia (corte feito entre a vagina e o ânus para ampliar o canal de parto) e pela ocitocina sintética (hormônio utilizado para acelerar o parto) — fatores que potencializam a dor e as fazem pensar que essa é a pior dor do mundo. “Essas mulheres não tiveram parto natural, elas tiveram o parto induzido e o fato deles realizarem esses tipos de procedimentos durante o trabalho de parto, as fazem pensar que elas não são capazes de dar à luz de forma totalmente natural”.


VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Há dois anos, Liliane Ferraz, 32, estava grávida de Laura e com o intuito de ter o parto natural, investiu nas pesquisas para encontrar a melhor maternidade — o objetivo era achar um local humanizado, que respeitasse os desejos da mulher. A vontade era ter a filha sem interferências médicas desnecessárias e eternizar a lembrança como algo único e especial. Mas, infelizmente, não foi nada disso que aconteceu. O nascimento de Laura foi um grande terror que acabou por gerar memórias traumáticas que acompanharão a estudante de engenharia para o resto da vida.


Grávida de 37 semanas, Liliane foi a uma consulta com a médica obstetra e, após um exame de toque, foi constatado que ela já estava com 4 cm de dilatação. Com o intuito de acelerar o parto, a médica fez o deslocamento do colo do útero e afirmou que a bebê nasceria até o final de semana. Ao contrário do que a obstetra imaginava, Laura não nasceu e outra consulta teve que ser feita, dessa vez já no hospital a comando do médico plantonista. “Eu estava tendo contrações leves ainda e quando o obstetra foi fazer o exame de toque para checar a dilatação, foi extremamente doloroso e invasivo”, conta Liliane. O exame que deveria ser indolor, foi manipulado de forma tão brutal a ponto de machucar a gestante e fazê-la sangrar mais do que o comum. “Ele me internou e disse que agora o parto aconteceria, já que ele tinha mexido muito”.

                                                                               Após parto sofrido, Liliane supera os traumas com a
                                                                                                                        ajuda da filha Laura.
Apesar de não querer o uso de ocitocina sintética e não haver necessidade, pois o trabalho de parto já estava avançado, uma enfermeira colocou a substância no soro contra a vontade da mãe, o que já descaracteriza o conceito de parto humanizado — concepção que, na teoria, era muito defendida pelo hospital. “Depois disso comecei a ter contrações muito fortes e chamei a enfermeira que me disse que eu já estava com 8 cm de dilatação”. Liliane foi encaminhada para a sala de parto e, após ter o monitor cardíaco e de pressão colocados, foi deixada sozinha no local.
A violência obstétrica sofrida por ela não para por aí. A maca em que estava era virada para a porta de vidro da sala e dessa forma, todos que passavam pelo corredor podiam ter uma visão de Liliane deitada em uma posição nada confortável. Depois de diversas pessoas passarem espiando, o anestesista, que demorou um bom tempo para chegar, foi informado que a estudante já estava com 9,5 cm de dilatação, e à esse ponto, já não era mais indicado que a anestesia fosse dada. “Eu estava tendo muitas contrações e o instinto do meu corpo era se contrair. Ele dizia para eu ficar parada, não me mexer porque ele ia aplicar a anestesia, mas estava fora do meu controle. Ele queria aplicá-la porque ganharia em cima disso, mas eu poderia ter ficado paraplégica por causa desse erro”.
Enfim a enfermeira chegou e sem nem ao menos questionar Liliane, realizou a episiotomia. Ela tentou intervir dizendo que não queria, mas a profissional afirmou que era necessário. Após esse momento, a gestante não teve que se esforçar muito para a filha nascer e a menina já tinha vindo ao mundo. Passada a euforia e ansiedade, Liliane percebeu o quanto o evento foi traumático em sua vida. “Eu fiquei muito abalada psicologicamente depois do parto, sempre que pensava ficava mal. Acho que foi principalmente por causa da episiotomia. Eu me senti mutilada, desrespeitada! Eu não queria ter sido cortada e avisei que não queria. Eu preferia que minha filha tivesse me rasgado e então ter sido necessário dar pontos, do que terem me cortado daquela forma invasiva”. O médico obstetra Braulio Zorzella afirma que nenhum caso de episiotomia é relatado se houver um treinamento perineal durante o pré-natal.

Confira abaixo um pouco mais sobre o assunto no áudio de Liliane:


Por Marília Padovan

Na década de 1960, Brasília também passou por problemas de abastecimento de água

Em apenas uma década, a população do DF superou a previsão de habitação em 40 anos, incitando a criação de novas fontes de distribuição

Por Hamilton Ferrari


Primeiras tubulações instaladas em Brasília. Créditos: Revista Brasília/Arquivo Público
Tudo pronto para a inauguração. As obras das vias e dos prédios públicos foram conferidas de perto e autorizadas pelo presidente Juscelino Kubtischek. Uma das preocupações centrais das obras era o atendimento de água e esgoto para a cidade inventada. A projeção era audaciosa. Brasília foi construída para comportar 500 mil habitantes no longínquo ano 2000. Para o abastecimento de água, a previsão não foi diferente. 

Em documentos do Arquivo Público, o ex-deputado goiano Anísio Rocha deu detalhes de como seriam os serviços de água e esgoto em Brasília. O político, do Partido Social Democrático (PSD) - o mesmo do ex-presidente Juscelino Kubtischek -, escreveu um artigo à Revista Brasília em maio de 1959, explicando que seriam feitos “dois serviços no Departamento de Água e Esgoto da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). “O provisório e o definitivo, sendo que o primeiro, destina-se a atender os diversos acampamentos, Núcleo Bandeirante e canteiros de trabalho”, disse.


Mas o crescimento populacional surpreendeu os projetistas e o número de habitantes superou a estimativa em 1970. Com o imprevisto, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) precisou readaptar os sistemas de abastecimento e realizar previsões mais seguras para os anos seguintes. A captação seria dada em diversas fontes, o que daria um volume de nove milhões de litros por dia. Naquela época, foram empregados 50 quilômetros de tubulação. 

O abastecimento definitivo estava adiantado naquele ano. Uma câmara do Reservatório R-2, que abastece a zona sul e 600 encanamentos domiciliares já estavam em funcionamento. A construção da Barragem do Ribeirão do Torto estava em andamento, fornecendo água para a cidade. “Durante os primeiros anos, isto é, para uma população de cerca de 400 mil habitantes”, declarou o deputado.

        
Em apenas 10 anos, a população da capital superou o projetado para quatro décadas. Em 1970, a Caesb reconheceu que, no período entre 1960 e 1969, o crescimento demográfico acarretou uma série de problemas aos serviços públicos, dificuldades essas que refletiram de maneira marcante nos programas de água e esgoto, segundo a companhia.
         
O professor Sérgio Koide,  do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), disse que os problemas com o abastecimento de Brasília começaram na previsão para uma população de 500 mil habitantes até o ano 2000. “Os projetistas chegaram a conclusão de que bastaria um reservatório grande, feito com uma ótima estrutura e com água de altíssima qualidade, mas que não daria conta de abastecer por muitos anos”, explicou.          

1970: o crescimento populacional exige criação de novos reservatórios 

O presidente da Caesb, Maurício Laduvice, reconheceu que o adensamento populacional preocupou e ainda pertuba o abastecimento de água no DF. “Em 1970, a Caesb inaugurou o Sistema de Santa Maria e, em 1973, a Barragem do Rio do Descoberto. Nós projetamos o consumo para os próximos anos”, declarou.   

Na década de 70, a companhia preferiu dar uma margem de segurança maior para os anos seguintes e estimou uma população de 2,5 milhões de habitantes em 1990.  Atualmente,  esse número superou a previsão, indo para 2,9 mi.

Readaptações

Em 1970, a Caesb ressaltou a impossibilidade de continuar com apenas o Sistema do Torto. “Os acréscimos introduzidos no plano Lúcio Costa, a manutenção do Núcleo Bandeirante, a criação do Guará, o rápido esgotamento do potencial dos mananciais que abastecem as cidades satélites, a contínua ocupação das bacias hidrográficas, nos mostrou a impossibilidade de se continuar a execução de sistemas isolados, exigindo a procura de mananciais que pudessem fornecer grandes vazões para atender a esse crescimento demográfico”, informou.

No início da década de 70, os pesquisadores da Caesb projetaram um consumo em 1990 de 590 litros por habitantes em um dia para o Plano Piloto e de 360 litros para cada morador em 24 horas para as cidades satélites. Naquela época, o Sistema de Santa Maria ainda estava em construção e o Sistema de Descoberto não tinha começado.

“Mesmo assim, novos problemas de abastecimentos ocorreriam, caso não houvesse novos sistemas”, disse o professor Koide. “O aproveitamento do Sistema do Rio Descoberto se dará em duas etapas. A primeira entrará em funcionamento em 1973, indo até 1978, com a segunda etapa, que irá garantir o abastecimento d’água até 1982. A partir desta data deverá entrar em operação o Sistema São Bartolomeu”, projetou a Caesb em documento do Arquivo Público.

Para o ano 2000, a Caesb estimou  um volume de 2.150 m³ ao Córrego de Santa Maria, de 6 mil m³ para 35 mil m³ do Rio São Bartolomeu. Contando todos os mananciais, o Distrito Federal teria 45 mil m³ no século 21. 

As novas previsões deram uma certa folga ao abastecimento de água no DF. “A Caesb vinha trabalhando num cronograma razoável. A margem de segurança era muito grande, dentro do que é razoável. Quando ocorria uma estiagem, havia ainda uma reserva muito grande. Não havia preocupação da Caesb em fazer racionamento. O próprio sistema conseguia absorver tranquilamente a quantidade de águaperdida”, declarou Koide.

Foi quando o crescimento populacional do DF e problemas de obras afetaram o abastecimento. “Brasília ganha 600 mil habitantes por ano, o que é um número muito grande. Além disso, questões orçamentárias, falência de empresas, alterações na fonte de recursos e o período de seca contribuíram para o agravamento. A margem de segurança foi diminuindo ano a ano”, disse o engenheiro ambiental.

Laduvice afirmou que os problemas durante todos esses anos foram pontuais em período atípico, mas que não representavam crise hídrica ou algo similar ao que ocorre atualmente no DF. “Nós nos preparamos no passado e ainda estamos nos preparando para os anos seguintes”, concluiu.


Oferta de empregos temporários é reduzida em 2016



A crise financeira que tomou o Brasil afeta também os aspirantes a um emprego temporário no final do ano. Aqui, no DF, a estimativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF) é a criação de apenas 3,8 mil vagas. No entanto, não há números e estimativas que desanimem o estudante Allan Songy, 23 anos. Ele enxerga o período como sendo uma “boa oportunidade para aqueles que querem uma renda extra para aproveitar as férias”. O estudante é otimista pois avalia que há muitas vendas em shoppings (seu foco, neste ano), e que as empresas costumam contratar antes de dezembro para a realização de treinamentos. Caso consiga alguma chance de se efetivar, Allan vai fazer parte dos 30% de trabalhadores que conseguem emprego fixo após a vigência do contrato de emprego temporário.


Mas nem tudo são flores para todo mundo. Se alguns veem esses dados com bons olhos, a concentração em outros pode cravar um pessimismo e instalar a confiança (não benigna) de que a situação não vai bem. Donato Dutra, um senhor de 63, é vendedor numa loja de calçados. A mudança de cenário nas contratações de 2016 no local de trabalho dele em relação aos anos anteriores é clara: nenhuma contratação de mão de obra. Um baque e tanto uma vez que antigamente registrava-se a contratação de quatro a seis funcionários em relação ao número do quadro”, segundo ele. Essa queda é traduzida em porcentagens em levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em conjunto com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), feito em 27 capitais com 1168 empresas. Desse total, não mais que 15,4% pretendem contratar funcionários temporários. Isso, ao mesmo tempo em que impressionantes 84,6% não vão contratar de jeito nenhum.

Relatório da Confederação Internacional das Agências Privadas de Emprego Público (International Confederation of Private Employment Services) - CIETT - faz saber que 40% de empregos temporários no mundo concentra-se na área de serviços, enquanto que a indústria é representada por 32%. A divisão dá conta de deixar claro que empregos temporários não estão apenas em shoppings. Izequiel Bezerra, 44 anos, é habituado com trabalhos temporários na área administrativa. Faturista hospitalar, assistente administrativo, técnico administrativo, auditor de finanças são apenas algumas das funções que estão assinadas em sua carteira de trabalho. “No período de um ano já cheguei a ter sete trabalhos em empresas diferentes como temporário. Era saindo de um e entrando em outro. Não esquentava com tempo e sim pensava na experiência e amizades que conquistava nas empresas por onde passava”, aponta ele. A diversidade de setores em que pessoas arrumam emprego temporário é representada também no casal Sofia de Faveri, 20, e Lahiri Abdalla, 26.

“Cartas marcadas”

As áreas mais comuns em que a jovem Sofia trabalha envolvem festas, eventos de música e transcrição de áudio. O número aproximado de empregos temporários que ela arranja é de vinte a cada ano, incluindo festas grandes e eventos pequenos. Já as oportunidades para trabalhar com transcrições de áudio surgem em períodos sazonais: no início e fim de semestres. Segundo ela, uma das vias pelas quais ela encontra emprego temporário são os amigos. “É muito difícil você chegar lá numa produção de festa e pedir um emprego. É muito complicado isso porque as pessoas já têm cartas marcadas assim. Elas já sabem em mais ou menos confiar e quem contratar porque geralmente são trabalhos que exigem uma determinada confiança e aí ela não vai ficar contratando qualquer pessoa.”



Ouça o áudio de Sofia falando sobre empregos temporários e preconceito: 







Na visão dela, a oferta de empregos temporários em Brasília nessas posições não é boa. “As pessoas geralmente só contratam quem elas já conhecem. Ninguém vai te contratar pra fazer um trabalho que às vezes mexe com dinheiro, ou que mexa com equipamentos caros, essas coisas, se a pessoa não te conhecer, a pessoa não ter noção de quem você é, você não tem uma indicação.”

Ainda de acordo com ela, umas das dificuldades em procurar emprego temporário é o preconceito que existe por parte de alguns contratantes não aceitarem pessoas com tatuagens, piercings e de pessoas com body modification (modificação corporal). “Acaba que atrapalhando um pouco porque as pessoas não têm credibilidade em você. Elas não acham que você, às vezes, consegue fazer determinados trabalhos de comunicação com as pessoas e tudo mais por causa do seu estilo, pelo jeito que você é. Aé eu já vi gente reclamando que pessoas também reclamam que os empregadores julgam pela sexualidade das pessoas, pela orientação sexual. Isso tudo é um grande tabu, é um grande preconceito. Tem muito problema em procurar emprego com isso. Fica muito difícil de procurar um emprego fixo, alguma coisa que mexa com público.”

Conseguir aquela chance em algum emprego temporário, na opinião de Lahiri, muitas vezes pode ser barrada pela mesma dificuldade que tem Sofia: o preconceito com o visual. “É certo que nos dias de hoje é muito mais aceitável uma ou outra tatuagem, é até normal. Mas quando se incluem piercings, alargadores, várias tatuagens, a situação se torna um problema. Algo que até compreendo em trabalhos que lidem diretamente com o público, mas esse preconceito ocorre mesmo em cargos que nada têm a ver com isso.” No entanto, nem de longe isso faz com que deixe de trabalhar. Para ele, as áreas em que mais consegue empregos temporários concentram-se em produção de festas e shows em funções como montagem, operação de caixa, controle financeiro e gerenciamento de equipes, além de trabalhar sazonalmente com transcrições de áudio. Ele também começou nesse ramo por meio de indicações de amigos, que depois passaram para indicações que os próprios clientes faziam a outros e que tentou uma vez alguma oportunidade pela internet, mas não obteve sucesso.







Ouça Lahiri falar sobre vantagens e desvantagens do emprego temporário:






Conheça as vantagens e desvantagens dos empregos temporários na avaliação dos entrevistados:









O presente é trabalhoso, e o futuro: doentio

Trabalhos noturnos podem causar prejuízos eternos segundo especialistas. Pessoas que vivem essa realidade, às vezes não possuem muito tempo para curtir a família e os amigos. A reportagem apurou para o Jornal Esquina casos de doença, agressão a familiares, mas também de trabalhadores que conseguem se adequar à rotina.

O porteiro Elismar mostra os dedos inchados por intolerância a lactose. (Foto: Pedro Marra)

''Tenho intolerância a lactose porque tomava um litro de leite na madrugada durante dois anos”
Confira a reportagem de Pedro Marra.

Crise hídrica: o que se esperar do futuro

O rigoroso racionamento de água em algumas regiões do Distrito Federal, em 2016, trouxe temor em relação ao que se esperar nos próximos anos.

O crescimento populacional de Brasília aumenta a demanda hídrica. Especialista destaca a necessidade do funcionamento de novas formas de captação de água, ou então teremos uma crise ainda mais forte nos próximos anos. 

Confira a reportagem de João Vitor Silva.



Foto por: João Vitor Silva.

Você também pode conferir as matérias sobre o passado e presente da crise hídrica.

Meio de vida: mulheres no lixão sonham em voltar a estudar


Mesmo com a rotina exaustiva, catadoras ainda sonham com uma vida melhor






     Rodovia DF-095, estrada onde o fluxo é intenso em várias horas da semana, via onde todos os dias passam milhares de carros, caminho percorrido por pessoas que estão apenas de passagem pela capital. À margem, impossível não sentir o mau cheiro e não notar a precariedade da Via Estrutural, onde também está presente a cidade da Estrutural, mais conhecida como Vila Estrutural.  

  Tudo começou na década de 1960, após a inauguração de Brasília. Naquela época deu-se o primeiro e único aterro sanitário da cidade. O lixão da Estrutural é o lugar onde é depositado diariamente todo o lixo da capital. No início da década de 1990, já se estimava que pouco menos de 100 domicílios invadiam o lixão. Esse número já era preocupante para a vigilância sanitária na época. Em 1989, foi criado o Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA).  
  
   Em janeiro de 2004, segundo informações “O SCIA foi transformado na Região Administrativa - Lei nº 3.315, tendo assim a cidade da Estrutural como sua sede urbana e também contando com a Cidade do Automóvel, onde está localizada a sede da Administração Regional”. O setor foi criado exatamente na época em que se previa a remoção da invasão para outro local.  
  
   

 Desejos  


   Mesmo com a rotina exaustiva, a ausência de estrutura, a precariedade, a falta de reconhecimento e o desrespeito, os trabalhadores continuam com bagagens de objetivos e sonhos dentro das mentes e corações. Um bom exemplo de pessoa com o coração puro e a mente fértil é a catadora Eliane Da Silva, 42, mãe e viúva. É perceptível e nítida a vontade de viver, o sangue nos olhos de pessoas como a trabalhadora. A guerreira vive e trabalha nesse lugar com mau cheiro forte e falta de estrutura e, mesmo assim, continua com o sorriso espalhafatoso e o olhos reluzentes.   


    Dona Eliane é de Goiás e trabalha no lixão da Estrutural há mais de 18 anos, ela conta que já tem anos que não pega em um livro para estudar. “Eu parei de estudar tem 24 anos, eu fiz só até a 8ª série, porque eu engravidei muito cedo e tive que parar.”  



    A catadora tem um sonho diferente, que conta sem tirar o sorriso do rosto e a pureza do coração: “Eu achei uma melissa no meio de tanto lixo e disse que ia pegar a melissa e calçar só para me inscrever no BBB.” Eliane diz que sonha em ser famosa e ganhar dinheiro no reality. Ela conta ainda que tem dois filhos para sustentar, um de 7 anos e outro de 24 anos, que ajuda trabalhando como motorista nas horas vagas. Ela afirma que não vai desistir de seus sonhos, ela deseja voltar a estudar quando conseguir estruturar a família. Quer fazer uma faculdade e se ver livre de tanto lixo, mas diz que é um sonho distante e sofre só em pensar que precisa estar nessa realidade todos os dias, às 8 horas da manhã. “Precisamos acreditar né!? Vai que um dia acontece”, completou.  
     

  A falta de estrutura, o salário escasso e a preocupação de com quem deixar os filhos deram um imenso alívio a metade dos catadores, depois de uma grande inciativa. É o que conta Nazaré, criadora do projeto social  da creche Esperança, localizada na Comunidade de Santa Luzia na Estrutural. Ela conta que decidiu criar a creche porque sofreu um acidente e parou de trabalhar, no tempo livre começou a ajudar crianças em situações precárias.   
  
  A idealizadora do projeto diz que as cenas de crianças que acompanhavam os pais catadores no lixão, a motivou a iniciar a creche. “Tinha um lixo perto daqui e eu via as crianças comendo os restos, comendo biscoitos velhos e eu falava menino sai dai porque tem rato, vem cá que eu vou te dar comida, eles passaram a vir”, relatou.  
  
  Segundo Nazaré, a situação em que ela acolhia essas crianças era muito precária. Ela já chegou a pensar em desistir por achar que não ia conseguir e chorava por pensar nas crianças. Mas com a ajuda de uma reportagem, essa história ficou conhecida e, até hoje, ela recebe um suporte maior de doações e ações solidárias para continuar o projeto. Maria Nazaré diz que até pessoas de outras cidades se comoveram e mandaram doações para colaborar. “Eu fico muito satisfeita de receber essa ajuda, ás vezes vou pra janela, olho para o céu e penso, meu Deus será que eu mereço tanto? É gratificante esse tipo de trabalho.”  
   
Garra  
  
    A Vila Estrutural é  um lar para muitos trabalhadores. Ela ocupa um espaço de 154 hectares e possui uma população de pouco mais de 35 mil habitantes. Uma delas é a Dona Leonildes, catadora há mais de 20 anos que veio do estado do Pará, em busca de um atendimento melhor na saúde para a sua mãe que sofre de diabetes. “Lá no estado onde a gente morava a saúde não tava muito boa, então a gente veio procurar um tratamento melhor pra ela aqui.” Leonildes Medeiros, 42, trouxe consigo uma bagagem de sonhos e metas.  
  
  A catadora Leonildes só estudou até a 4ª série do ensino fundamental e, assim como a maioria das pessoas, tem o sonho de concluir os estudos algum dia. “Meu sonho é terminar de estudar, eu ainda penso em estudar e ter um serviço melhor né!? porque a gente não estudou, morou na roça muitos anos e então não tivemos a oportunidade de estudar.”  
  
   A trabalhadora prova que é uma mulher sonhadora e guerreira. Ela conta que trabalha de segunda a segunda para ajudar a sustentar o filho e ajudar o marido que vive de bicos semanalmente. Como uma mãe de família, ela tem tarefas dentro de casa, o marido ajuda em tudo que precisa e ela sempre conta com a presença dele e do filho de 11 anos na hora do almoço, fornecido no lixão. Leonildes é uma das centenas de pessoas que encontram sustento, mesmo que precário, no lixão da Estrutural.  
   Ela diz que se considera uma mulher muito sonhadora, conta que enquanto está catando e levando o lixo para a coleta, pensa em várias coisas. “Me perco em meus próprios pensamentos e sonhos, às vezes compartilho com minhas amigas que também trabalham aqui tudo que passa pela minha cabeça”, contou. Assim são os dias de serviço de grande parte dessas pessoas, onde o tempo se torna um guardador de sonhos.  
   
Esforço 
   
   Mesmo que a invasão tenha sido considerada imprópria para habitação, por se tratar de uma área de depósito de lixo e estar perto do Parque Nacional de Brasília, foram feitas várias tentativas de fixação dos moradores por meio da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Em 1995 e em 1999, a CLDF aprovou duas leis que criavam criando respectivamente, a Cidade Estrutural e a Vila Operária, ambas foram vetadas pelo Poder Executivo local. 
  
  Até hoje essa saga continua, existe um projeto de construção de um novo aterro em Samambaia, com maior estrutura. O aterro sanitário de Samambaia tem capacidade para receber oito milhões de toneladas de lixo, o que representa vida útil de 13 anos.  
   
   Ao contrário do lixão da Estrutural, que já absorve material reciclável, lixo tradicional e até rejeitos da construção civil. A área do novo lixão receberá resíduos convencionais, que não podem ser reaproveitados. O aterro possui uma distância consideravelmente afastada de áreas residenciais prevenindo assim, riscos de contaminação. Com essa obra os catadores serão proibidos de entrar no local para trabalhar. Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a área será cercada por seguranças. 


Confira a matéria na versão impressa:



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