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Conic - Seis estúdios fazem a festa dos tatuadores

A tatuagem, que possui adeptos de todas as raças, culturas, sexos e religiões, encontrou no Conic sua casa no Plano Piloto. Os becos e lojas do local abrigam gente de todo jeito, inclusive tatuadores. O prédio mais democrático de Brasília também é lar dos artistas da pele na capital federal.
Poeta fazendo tatuagem em cliente/ Foto: Paulo Cronemberger
Fabrício Schmidt, conhecido popularmente por “Poeta”, é o mais antigo tatuador ainda trabalhando no prédio. O catarinense, de 30 anos, trabalha com tatuagem desde os treze. Veio para Brasília para se casar, e há 12 anos é tatuador no Conic. Ao som de Raul Seixas, Poeta conta sua história. “Eu digo que a tatuagem me achou. Eu era uma criança quando comecei, estava brincando de tatuar e encontrei o que eu queria fazer. Não vejo como uma profissão para mim, porque eu faço pela paixão”, explica o tatuador.
Poeta em seu estúdio de tatuagem /  Foto: Paulo Cronemberger
Mesmo tendo sofrido preconceito de sua família, hoje Poeta entende que o estigma da tatuagem diminuiu. "Eu vejo tudo como uma tribo só, principalmente aqui dentro. O Conic é muito democrático, é um pedaço do Brasil inteiro mesmo. Tem comida típica, cinema, óticas, gente de tudo quanto é estado... e o pessoal se relaciona de forma tranquila. Já sofri preconceito fora, mas nunca aqui dentro”, sorri Poeta.
Desde que se estabeleceu no Setor de Diversões Sul, o tatuador não pensa mais em se mudar. “Aqui virou um ponto fixo pra tatuagem, o pessoal já vem procurar aqui. Virou referência. Aqui vai ser minha ilha, meu point. Posso viajar e conhecer outros lugares, mas é aqui que eu volto para trabalhar. Passo mais tempo no meu estúdio que em casa”.
Mesmo com cerca de seis estúdios de tatuagem, todos possuem seus clientes e funcionam normalmente, mantendo o clima entre os tatuadores amistoso. “Isso de concorrência vai mais da cabeça da pessoa. Cada tatuador pode criar seu estilo, e aí vai agradar diferentes públicos. Se o cara coloca um bloqueio nele e não consegue fazer o dele, aí ele vai perder cliente mesmo”, diz Poeta.
Outros tatuadores do local compartilham da mesma visão. “Aqui já passou muito tatuador famoso, é perto da rodoviária então tem mais movimento, é muito bom pros negócios”, comenta o tatuador Pedro Soares, que começou a tatuar no estúdio Art Place Tattoo recentemente. “Nem peguei na agulha direito. Mas estou aqui pra aprender com o pessoal”, comemora.
Pedro Soares, da Art Style Tattoo/ Foto: Paulo Cronemberger
Antônio Alessandro, conhecido como “Galego”, é um dos sócios do Cria Tattoo, e fala sobre o público de suas tatuagens. “Aqui vira e mexe recebemos prostitutas e travestis, e é comum em qualquer outro estúdio. Não existe isso de preconceito, é cliente e paga do mesmo jeito, e nós tratamos do mesmo jeito também. Essa é a graça do Conic”, ressalta Galego.
Tatuadores do "Cria Tattoo" / Foto: Paulo Cronemberger
Gerson Assis, da Stay Classic Tattoo, explica a escolha do Conic para abrigar sua loja. “Nós queríamos abrir uma loja mais privada, dar mais atenção ao cliente. Eu sempre tive um estilo mais alternativo e já frequentava o local. Quando surgiu a oportunidade de alugar uma loja aqui por preço acessível, não pensei duas vezes”, explica o tatuador. “Aqui tem uma pegada cultural e um clima agradável. Todo sábado rola um hip hop, enfim... é quase nossa casa”, finaliza.



Problemas
Um dos sócios da Antrum Tattoo, Hudson Morgan comenta sobre os problemas do Conic. “Aqui é um lugar muito queimado, o pessoal tem medo. Essa estética visual e o slogan de falta de segurança colaboram para a imagem ruim daqui”, lamenta. Apesar disso, Morgan considera que o local possui movimento. “No começo tem esse probleminha, mas o ponto aqui é bem habitado e todo dia a gente tem cliente”, comemora.
Fachada da Antrum Tattoo / Foto: Paulo Cronemberger
Gerson Assis também reclama da falta de segurança no local. “Outro dia eu quase saí no braço no estacionamento ali atrás. Agora que é época de política melhorou um pouco, mas se for tarde da noite e eu estiver tatuando uma ‘mina’, eu tenho que acompanhar ela na hora de ir embora, principalmente por causa do pessoal viciado em crack. É quase uma crackolândia mesmo ali naquele estacionamento”, lamenta.
Para Galego, os problemas não possuem solução. “Eles podem tentar melhorar a imagem, mas não tem muito jeito. O prédio é tombado, e é velho. Pra gente que trabalha aqui e o pessoal já conhece é ‘de boa’, mas se for alguém de fora pode ser perigoso mesmo, a gente ouve história”, cita.

Poeta compara o Conic hoje com o que ele encontrou há 12 anos. “Não mudou muita coisa. Antes tinha um posto policial aqui no centro do Conic que fechou. Eu até lamento essa falta de segurança, né. Mas meu medo é que isso vire outro shopping. Aqui é cultura. Tem que investir em fonte, praça, transformar num local família. Não cultuar o consumo, não pode virar apenas um centro comercial”, se preocupa.

Por Paulo Cronemberger - Esquina Online