Conic - Uma igreja que acolhe os homoafetivos

A Comunidade Athos é uma igreja recente, com visão inovadora no País

Conic - Seis estúdios fazem a festa dos tatuadores

A tatuagem encontrou no Conic sua casa no Plano Piloto

Conic - O brilho das Drag Queens

Assim que Savanna Berlusconny sobe ao palco, o público da boate se aglomera para assisti-la

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Prezadas leitoras, prezados leitores, estamos com uma nova plataforma de conteúdo, lançada em junho de 2017. As reportagens são produtos tr...

Conic - Lojistas a céu aberto


Os camelôs que ficam nos arredores do Conic são parte integrante do local, e é impossível imaginar um passeio pelo Setor de Diversões Sul sem os vendedores de roupas íntimas, meias, bolsas, redes e edredons que ficam espalhados pelas calçadas expondo seus produtos, na localização que eles dizem ser a melhor de Brasília para trabalhar.


                   Conic - Desafio do comércio diário
                   Conic - Espaço Cultural para todas as tribos

Cleide Pedrosa, têm 59 anos, trabalha como camelô há desde 1993 e vende roupa íntima feminina. Normalmente ela se estabelece no Gama e nas proximidades do Banco Central, no último sábado (18) era a primeira vez que tentava a sorte no Conic. “Há alguns dias passei por aqui e vi isso aqui muito cheio, decidi vir aqui tentar. Perguntei se não tinha rapa e me disseram: tem, mas a gente corre”, disse Cleide rindo.

Confira o trecho em que Cleide conta um pouco sobre a rotina de trabalho.

Enquanto Cleide se arrisca pela primeira vez, Fábio e Elizabeta são fixos no Conic há anos e não pensam em mudar de lugar. O camelô que preferiu se identificar apenas como Fábio, trabalha nesse ponto há 15 anos e vende artigos femininos como bolsas e calças. Ele conta que há muitos anos definiu seu público alvo, prefere vender artigos para mulheres. “ A mulher é menos murrinha”.

Ouça o camelô explicando o porquê da predileção pelo público feminino

O vendedor de bolsas, Fábio organizando seus produtos / Foto: Marina Adorno

Elizabeta Bazan Chirinos, é natural do Peru e chegou em Brasília há 15 anos. Em busca de liberdade ela abriu mão do emprego em um banco e largou tudo para trás. Hoje, ela possui uma casa em Planaltina e vive com os 25 cachorros que adotou  nas ruas. Elizabeta diz que não tem família, apenas cachorros, e afirma que trabalha todos os dias por eles. “Quando cheguei tentei trabalhar no setor comercial, mas as pessoas lá são muito egoístas. Não fui bem aceita e aqui no Conic não existe esse comportamento, tem lugar para todos”.


Elizabeta no momento em que foi abordada pela fiscalização / Foto: Marina Adorno

Enquanto a reportagem do Esquina conversava com Elizabeta agentes da Secretaria de Estado da Ordem Pública e Social do Distrito Federal (SEOPS) abordaram a vendedora e ela teve que recolher todo seu material rapidamente e sair do local. Quando ela voltou várias pessoas vieram perguntar se estava tudo bem e ficou claro que Peru, apelido pelo qual outros camelôs e flanelinhas chamam Elizabeta, fez a escolha certa. O Conic é mesmo um lugar plural que não faz restrição a ninguém.

Após ser abordada por agentes da SEOPS, Elizabeta conta que é preciso ficar atenta: ouça

A presença da van da Seops já funciona como forma de intimidação para os camelôs / Foto: Marina Adorno


Por Marina Adorno – Esquina Online

Conic - A "Faixa de Gaza" não é aqui



Harmonia cultural e religiosa no Conic / Tina Dornelas

De um lado, fiéis de igrejas tradicionais conservadoras, de outro frequentadores de espaços alternativos inclusivos. Com diversos elementos que poderiam tornar o Conic um campo de batalha, o local se confirma como um ambiente de tolerância cultural e religiosa.
Inaugurado na década de 60, o centro de comércio e entretenimento está localizado no Setor de Diversões Sul, ao lado da rodoviária do plano piloto. Sua pluralidade atrai um público eclético. Toda diversidade cultural, regional, social, racial, política e religiosa cabe lá dentro. O espaço abriga bares, lanchonetes, restaurantes, sindicatos, comitês de partidos políticos, boates, galeria e faculdade de teatro, sauna, salões de beleza, estúdios de tatuagens, lojas variadas e igrejas de diversas religiões.
Fachada do Conic / Foto: Tina Dornelas
A Igreja Universal do Reino de Deus foi a primeira a chegar. Flávia Portela, prefeita do Conic conta que no início ocorreram transtornos com frequentadores de alguns bares, mas aos poucos a política da boa vizinhança prevaleceu.
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Universal, a primeira das seis igrejas do Conic / Foto: Tina Dornelas

Atraídas pela localização central, baixo custo dos aluguéis e estrutura apropriada para cultos, outras igrejas passaram a ocupar os espaços das salas de cinema do Conic.


                                            Igreja ocupa espaço do antigo cine pornô / Tina Dornelas

Os fiéis da Igreja evangélica Ministério Marca da Promessa convivem pacificamente lado a lado, com os frequentadores de uma das casas LGBTS mais antigas de Brasília, o Espaço Galleria
O último culto acontece às 20 horas. O movimento da boate aumenta de madrugada. A alternância de horários facilita o desencontro dos frequentadores diferenciados e a possibilidade de confronto entre eles.
Prefeita do complexo desde 2004, Flávia garante que a convivência é tranquila.  “O Conic é um setor muito permeável. Nós temos um regimento comum, assinado, que todos têm conhecimento, mas não é uma regra, não é uma lei. Eu nunca vi briga, não tem essa história lá”, ressalta.
A Igreja Pentescostal Deus é Amor fica no sub-solo do edifício Baracat, que faz parte do complexo comercial do Conic e o último culto acontece às 19 horas.


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Cultos diários em horários variados / Foto: Tina Dornelas
Diversidade
No subsolo do edifício Eldorado, o mais central do Conic, está localizada a igreja inclusiva Comunidade Athos há nove anos. A entrada é pela portaria B, que dá acesso às salas comerciais do prédio. Não existe nenhuma placa de identificação LGBT, nem na fachada do prédio e nem na porta da sala no final do corredor.
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Portaria de entrada da Comunidade Athos / Divulgação

Os cultos acontecem nas noites de quarta e sábado de maneira muito discreta, conduzidos por uma pastora numa sala simples, sem altar e sem imagens religiosas. A única identificação da comunidade LGBTS é um banner na parede do fundo com a logomarca e o site da entidade.


Aceitação de fiéis LGBTS
Um dos fiéis, que preferiu não se identificar comenta a necessidade de uma igreja inclusiva. “As igrejas tradicionais não nos aceitam. O nosso desejo é estarmos juntos. Deus não nos criou para esta separação”, lamenta. Segundo ele, ainda existe muito preconceito na sociedade. “A ideia da igreja inclusiva não é uma festa para os homossexuais. Muitos não conseguem entender que um gay possa ter uma religião. Alguns acham que vão encontrar uma boate, mas quando chegam aqui veem que é uma igreja como outra qualquer, que acredita na Trindade Santa – Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito e segue a bíblia sagrada”, esclarece.
Para um dos frequentadores mais antigos, a sinalização de mais tolerância por parte do líder da igreja católica é muito significativa para toda a comunidade. “O Papa Francisco é uma voz importante dentro do cristianismo no mundo. Quando ele abre os braços para os homoafetivos, as outras igrejas também podem começar a aceitar e aí nós poderemos conquistar mais respeito”, ressalta.
Umbanda e candonblé foram pioneiros no Conic / Foto: Guilherme Lopes

Localizada ao lado de um bar e de uma igreja, a loja de artigos de umbanda e candomblé, que está no Conic há 26 anos, já passou por alguns atritos com os vizinhos religiosos. A proprietária do estabelecimento, Helena Mesquita, conta que houve uma época em que a entrada da loja amanhecia com sal ou arruda, e que um pastor chegou a dizer que estava lutando para tirar os proprietários do local, mas atualmente a convivência é totalmente pacífica entre eles.
A chegada de um novo pastor construiu uma relação cordial com os donos da loja. “Ele chegava, dava bom dia, ficava conversando comigo e com meu marido. Ele dizia: ‘eu não tenho preconceito com religião, porque cada um acredita naquilo que gosta e no que quer’. Ele me deu um livro sobre todas as religiões e tenho ele até hoje em casa.”, relembra Helena.  Desde então a convivência se mantém harmoniosa.
Quanto aos outros comerciantes, transeuntes e até mesmo as demais igrejas no Conic, a proprietária diz que não há nenhum conflito e que a relação é tranquila. “Às vezes, algumas pessoas passam e viram a cara, outros, que vêm de fora, se benzem ou coisa do tipo, mas nunca mais tive problema”, conta ela.
Desde a inauguração da capital federal, o Conic segue por décadas recebendo pessoas, de diferentes tribos, crenças e orientações sexuais. Isso comprova que é possível conquistar uma convivência harmoniosa e pacífica, no mesmo espaço.

Por Tina Dornelas e Guilherme Lopes - Esquina Online

Conic - Sob quatro rodas

O Conic é conhecido pela sua diversidade e peculiaridade. Nele, funcionam os mais diferentes tipos de comércios e sindicatos. Dentre eles pode-se encontrar boates, cinema, bares, igrejas e muitas lojas. Algumas dessas lojas têm maior destaque, e as as mais tradicionais são as de skatewear. Construídas desde o início do Conic, as lojas de Skatewear marcam o espaço cultural do prédio. Mais do que lojas, elas se reúnem e promovem eventos todos primeiro sábado do mês. Segundo os lojistas e donos dos estabelecimentos, os eventos são para interagir com seus clientes e para tentar trazer o público do Conic de volta, já que a maioria está migrando para outras áreas. Ao andar pelo estabelecimento durante o dia é perceptível a falta de higiene e policiamento.


SKATEWEAR

Cleiton Fragoso feliz com os eventos /Foto:  Fábio Setti
Referência em Skatewear, o Conic já se tornou ponto de encontro para skatistas de todas as idades e partes do Distrito Federal. A escolha é óbvia: pela quantidade de lojas e produtos vendidos no Conic, e o espaço aberto central, o prédio se torna o local ideal para encontros da modalidade esportiva. A concentração de skatistas no local ainda é a maior de Brasília. Todo primeiro sábado do mês, acontece um evento que ajuda na divulgação das lojas. Por esses eventos já passaram trucks e rodinhas famosas, como as de Rony Gomes e Otavio Neto. Vendedor há 10 anos e morador do Valparaíso, Cleiton Fragoso chegou por acaso ao Conic por um convite do primo. 

Cleiton pegou gosto pelo ramo da skatewear e se identificou com o público.“Nossa loja patrocina os eventos, banca tudo e como retorno, recebemos o carinho e a volta do público que nos prestigia. A galera é fiel, mas temos que ter maior apoio do governo”, Para o vendedor experiente não são apenas os problemas internos do Conic que fazem o público se afastar. Há muitas obras aos arredores da rodoviária que não tem previsão para acabar. 

O transporte é ruim das cidades satélites ao centro e a falta de informação sobre o
local também causa efeito negativo na vinda do público. “Tem que ser feito algo a respeito da imagem que as pessoas têm daqui, é nosso papel limpar o nome, mas também tem que haver atitude da administradora”, acrescenta Cleiton.

Confira o vídeo dos skatistas em Brasília

Vantagens

Matheus Pimenta se diverte de dia / Foto: Fábio Setti
Todo shopping tem seus prós e contras. Lugar tranqüilo de manhã, inofensivo durante o dia, tem grandes atrações e visual descolado. Grafites espalhados, artistas de rua e artesanatos variados recheiam o Conic. Durante o dia, o setor é bastante agradável, tem um visual de encher os olhos e possui um espaço de qualidade para andar de skate, segundo Matheus Pimenta, de 21 anos, que ressalta que o local tem suas qualidades. “As pessoas falam muito mal daqui, mas na realidade o que acontece de pior é nos horários mais vazios. Durante o dia é bem tranquilo, como qualquer outro local”. Matheus também conta que visita o Conic tranquilamente e acha as opções de loja e preço bem acessíveis. O rapaz lamentou a migração do público e ressaltou que é um lugar único e que não deveria ser abandonado.



Problemas


Guilherme Silva, vendedor de uma das lojas de skate, tem 19 anos e é vendedor no Conic há um ano e meio. Ele afirma sair todo dia após o expediente com medo dos moradores de rua que ficam aos arredores. “Por volta das 14h eles chegam, ficam aí xingando as pessoas e ameaçando elas, infelizmente o Conic está perigoso”. Antes de trabalhar no lugar, Guilherme era frequentador assíduo e frisou a qualidade das lojas e do estilo alternativo do setor. Ele conta que ia muito para lá encontrar os amigos e sair para andar de skate. “Eu sempre vinha para comprar meus equipamentos que só tinham aqui e depois descia para o setor comercial, museu para andar de skate”, diz o jovem. Desde que começou a trabalhar na loja e ter maior contato com o local e o público, o jovem vendedor diz que o número de skatistas diminuiu. “Aqui está queimado demais. Vejo na internet a população reclamando. Virou ponto de droga, a polícia faz descaso conosco e, consequentemente, nossos clientes desaparecem”, reclama Guilherme. 



Guilherme Silva chama os clientes de volta /Foto:  Fábio Setti


Por Fábio Setti

Conic - Uma igreja que acolhe os homoafetivos

Comunidade Athos Localizada no Conic / Foto: Lucas Veloso 

O Conic possui cenários inimagináveis. Conhecido por sua diversidade cultural, o espaço criado há mais de 47 anos abriga bares, sindicatos, boates, livrarias, restaurantes, lojas de artigos de umbanda e templos religiosos dos mais diversos tipos. Esse cenário compõe o espaço que fica no Setor de Diversões Sul.
A Comunidade Athos é uma igreja recente, com visão inovadora no País, onde atribui ao homem o direito de sua orientação sexual sem discriminação por parte dos membros da igreja ou da Bíblia sagrada. Dar-se o nome de Teologia inclusiva. Esta comunidade será tida como “filha” da Acalanto , fundada pelo pastor Victor Orellana, e funciona há 9 anos, tendo o início de suas atividades em Dezembro de 2005.

Os congregados se baseiam em uma passagem bíblica no livro de Atos capitulo 10 versículo 34 que diz: “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas”.É com base nesse pensamento que a igreja foi fundada, ganhando visibilidade e respeito por diversas pessoas. Casais homossexuais foram membros de outros ministérios, mas, insatisfeitos com a rejeição de suas orientações sexuais, optaram por seguir a doutrina dessa comunidade.

Hudson Oliveira, membro atuante da igreja, ouviu falar da Comunidade Athos em 2011 através de um colega de faculdade, que hoje lidera outra igreja inclusiva de Brasília.  Como sua antiga comunidade religiosa não aceitava participantes homoafetivos, Hudson decidiu desde 2012 congregar na Athos. Em 2013 foi separado cooperador e também atua como ministro de louvor. “Sei que Deus me ama como sou, isso me deixa à vontade para realizar o que creio ser a vontade de Deus através de mim” comenta.

Antes, Hudson passou por três igrejas diferentes e, segundo ele, nessas denominações a homoafetividade era demonizada.  Por esse motivo ele não comentou com nenhum “irmão” sobre ser homossexual. Enquanto frequentei as igrejas tradicionais, exerci meu ministério e fui reconhecido por isso. Mas isso só aconteceu porque eu não me assumira homossexual”, desabafa.

A Comunidade Athos não apenas aceita, mas, realiza casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Assim como também realiza o batismo nas águas e acreditam na manifestação de dons espirituais. Uma igreja denominada pentecostal, cheia do chamado “avivamento”.

Léo Capellatto, 24 anos, Chegou em Brasília há poucos meses e, na busca de uma nova congregação, conheceu a Comunidade Athos através das redes sociais. Ele confessa ter tido certa resistência no inicio por ter frequentado igrejas tradicionais por muitos anos. Mas, com tempo, sentiu que poderia servir a Deus sendo quem realmente era. “Deus falou comigo e me mostrou o quanto é bom e perfeito estar na Sua presença sendo realmente quem sou. A diferença é que foi me dado à oportunidade através da Comunidade Athos de servi-lo em verdade, sem ter que me passar por outra pessoa, sem medo da indiferença”. Hoje, com seis meses de participação na Igreja, Léo tem pretensões como membro da comunidade de se dedicar à equipe de louvor e teatro, com a convicção de que é aceito por Deus e que pode ter uma vida plena. “Agora é diferente, sei que através de estudos bíblicos, inclusive por um de nossos pastores que estudou mais de 6 anos, que Deus me ama, sendo quem sou. Hoje sou mais feliz, sou o que deveria ser sempre, pois Jesus morreu para que eu tivesse vida com abundância”. Explica

Recepção calorosa

“Uma igreja que acolhe os homoafetivos que desejam a presença de Deus em suas vidas. Deus ama a todos!”. Essa é a frase do banner que fica no altar da igreja; logo ao lado a referencia bíblica de 1 coríntios 13 “ ... O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...” . A recepção calorosa faz jus às palavras de conforto e aceitação que compõe o ambiente de adoração.
Às segundas-feiras a igreja realiza as reuniões de oração. Os cultos das Quartas e domingos apresentam um número expressivo de fiéis lotando todas as cadeiras do ambiente. Casais, em sua maioria gays, participam juntos do Louvor e adoração à Deus, alem de retiros espirituais durante o ano. A igreja tem planos de acrescentar em sua programação, a partir de janeiro de 2015, as chamadas "células", que são reuniões realizadas nas casas dos fieis. A intenção é começar no Gama, Santa Maria, Samambaia e Taguatinga. A participação dos membros da comunidade ganha a cada dia maior visibilidade. Em setembro deste ano foi realizado, na parada gay de Brasília, um culto evangélico organizado pela comunidade Athos .

Pastora, Márcia Dias, mãe de três filhos, hoje casada com uma mulher,  considera-se realizada e compreendida por  Deus  “ Ele me deu a consciência que nunca fui uma surpresa para ele e que se ele quisesse já teria me mudado. Sou feliz pelos filhos que tenho e por ser quem sou.” afirma
E com esse espírito de aceitação e entendimento que a pastora fundou a Comunidade Athos e busca superar todos os obstáculos que venham tentar diminuir o trabalho da igreja. “Como ser humanos temos que lidar com os receios que podem surgir, mas uma coisa é fato: se cremos em Deus, temos que lançar fora todo medo; é assim que lido com as situações adversas”. Diz.  
Pastora Márcia Dias e sua companheira Marta / Foto: Lucas Veloso
                 
       
“O evangelho de Cristo é naturalmente inclusivo, vários são os relatos em que Cristo inclui as mulheres, os estrangeiros, os pobres, as crianças. A fé inclusiva está baseada na análise dos textos bíblicos sobre a ótica contextualizada da Bíblia; empregando os métodos críticos teológicos em que rejeitamos a pregação onde afirma que os homoafetivos são rejeitados por Deus por ser quem são. Não é quem somos que Deus julga, mas como vivemos e isso independentemente de ser hetero ou homossexual”. (Pastora Márcia)


Por Sheylla Martins - Esquina Online

Conic - O brilho das Drag Queens


Assim que Savanna Berlusconny sobe ao palco ao som de uma música pop animada, o público da boate do Conic se aglomera para assisti-la. Ela, com pernas compridas e bem torneadas, sorriso confiante e peruca brilhosa, não hesita em seus movimentos. Com passos de dança bem ensaiados e rítmicos, Savanna leva o público à loucura, enquanto joga o cabelo de um lado ao outro.

No meio da coreografia, sua peruca cai. Ela não se deixa abalar e seus passos não se confundem em nenhum momento. Quando está em cima dos palcos, Savanna é a estrela do lugar. Ela continua dançando até o final da música, suas macabras lentes de contato brancas reluzindo à luz brilhante do local.



Assim que a música acaba, ela sai correndo dos palcos. Os aplausos estouram a sua volta enquanto ela sai apressada e ninguém percebe a lágrima silenciosa que escorre por seu rosto. “Eu corri e vim pro camarim chorar. Eu corri e fiquei chorando aqui. Aí depois a Carrie [outra Drag que se apresentou hoje] falou ‘Põe a peruca e vai dar entrevista!’. E olha, eu demorei três anos fazendo shows pra conseguir pagar essa peruca”, explicou Savanna, alisando carinhosamente a peruca já recolocada em seus cabelos.

Pela autenticidade e por Savanna ter conseguido driblar o imprevisto, a queda da peruca pareceu até mesmo proposital, mas para ela foi como um desastre. “A peruca é o complemento fundamental da montação”, contou. “Porque mesmo quando você se maquia e se olha no espelho, quando a peruca entra, por mais que a roupa esteja estranha, ela é a peça chave, sem ela não tem como se montar, infelizmente não.  Ela é o nosso alicerce.”


Savanna continua seu show mesmo sem a peruca e arranca aplausos do público/ Foto: Regina Arruda



Carrie Meyers, que tem seu nome artístico inspirado na personagem “Carrie, a estranha”, foi a convidada da noite para uma participação especial. Ela e Savanna fizeram um número de comédia que ensaiaram minutos antes no camarim, mas que fez o público local gargalhar. As duas encenaram piadas sobre como se preparar, na rodoviária, para um encontro romântico.

Espetáculo que Carrie Meyers e Savanna Berlusconny em boate do Conic / Foto: Regina Arruda
Para a ocasião, Carrie estava fantasiada de Mickey Mouse. Colan preto e vermelho, orelhinhas e luvas brancas. Cada detalhe foi pensado. Até mesmo o sapato de salto alto que usava era amarelo, para combinar com o brinco. Suas lentes assustadoras e brancas, e seu batom preto comprovaram que Carrie realmente não tinha como passar despercebida naquela noite. Mas segundo ela, seu objetivo nunca foi parecer uma mulher. “Eu nunca quis parecer uma garotinha, e nem acho que meu personagem é tão feminino. Eu sempre quis algo que fosse o mais diferente possível. Conheço várias Drag Queens que quando montadas você olha na balada e acha que é uma mulher, mas meu objetivo não é esse”.


Para Carrie, uma das vantagens que as Drag Queens têm, é a vasta possibilidade de se produzirem. Cada dia podem estar de um jeito diferente, se vestir de um novo personagem e, no final de tudo, continuar sendo um homem. “A gente pensa na hora de soltar todas essas fitas que prendem a gente. Mas não passa na cabeça da gente de botar peito e de deixar cabelo crescer. Eu penso ‘pra que ter um cabelão se semana que vem eu quero estar de cabelo rosa e no domingo eu quero estar de cabelo roxo?’”.
Carrie Meyers se fantasia de Mickey Mouse para a apresentação da noite/ Foto: Regina Arruda e Bruna Goularte
Carrie contou que estudou por quase seis meses para aprender tudo sobre maquiagem e cabelo para trazer o melhor para o público. Segundo ela, essa é uma forma de se expressar. “Ser Drag Queen pra mim é arte. Eu pego toda a arte que eu tenho guardada em mim e jogo na minha personagem. É meio que meu lado feminino. A gente se veste pra fazer show e apresentação e quando eu tirar isso aqui tudo, toda essa camada de maquiagem, eu sou um garoto”, revelou.


Habituamente toda a produção acaba no fim da noite, mas Carrie contou que já pegou metrô toda elaborada e foi normal, tudo ocorreu bem. As pessoas pediram até para tirar foto, mas de acordo com ela, não é todo lugar de maioria heterossexual que se tem uma boa recepção. Com isso, ela assume que atualmente não tem mais atitudes assim, pois tem medo da reação das pessoas. “Hoje em dia eu não tenho mais coragem de fazer isso. Eu paro para pensar e falo ‘Meu Deus, que loucura’. Tem pessoas ruins em todos os locais e pra fazer uma maldade comigo é um pulo, sabe? Mas dependendo do lugar, os heteros sabem receber a gente muito bem”.


Boate


A grande movimentação que ocorre nos corredores do Conic durante o dia, dá espaço a uma área pouco frequentada no período noturno. No decorrer do dia, o local vai sendo abandonado e, pouco a pouco, as pessoas que ocupam o Setor de Diversões Sul, deixam o espaço. No entanto, é por causa desse lugar plural de cultura e gostos dos mais variados tipos que muitos brasilienses ocupam o Conic fora do horário comercial e buscam diversão, boa localização e uma vida noturna animada que aconteça em uma casa de festas LGBT.


É lá que as Drag Queens Savanna Berlusconny, de 22 anos e Carrie Meyers, de 18, são atrações quando querem se apresentar e procuram por um público fiel. “Essa é uma boate que desde sempre vem trazendo as Drag Queens. Então a gente já tem uma recepção muito boa aqui”, contou Carrie Meyers. “Se tem uma semana que a gente não vem, a galera fica ‘Cade vocês? Vocês não apareceram’. A galera nos recebe muito bem”.


As Drag Queens, Savanna e Carrie ilustram a diversidade do Conic / Foto: Bruna Goularte

Carrie acredita que a diversidade existente no Conic é importante para a visibilidade das Drag Queens, para que a população passe a notá-las com outros olhos. “É legal porque as pessoas tentam enxergar a gente, sabe? Não enxergar como monstros ou como pessoas que são ruins. Somos pessoas boas. Então quando eu mostro o meu trabalho para esse público diverso que tem aqui no Conic, eles vão entender que não é assim”.


Além disso, o palco do Conic permite um espaço de expressão às Drags. Savanna explicou como se sente quando está apresentando. “Eu me sinto uma rainha, me sinto uma deusa. E é uma sensação ótima. Agora é assim: em dia de show, por exemplo, eu brigo feio com o produtor, e a gente fica sem se falar”, contou ela.  “Isso acontece porque eu fico muito tensa. E eu digo ‘ah, enquanto eu sentir isso, eu continuo na profissão’. Mas quando eu parar de sentir isso, eu também paro, porque aí eu acho que perdeu a magia”.


A equipe de reportagem do Esquina Online vivenciou uma noite na boate LGBT. “Vocês estão na festa certa?” Perguntou logo de cara o segurança para a equipe assim que pareceu na porta da boate. “Eu conheço o pessoal que vem aqui. E vocês não têm o tipo dos que frequentam esse tipo de lugar”. O segurança, ao se pronunciar, mostrou que conhecia bem as pessoas que iam ali para se divertir.


Mas tirando o segurança conhecedor do público, ninguém dentro da boate pareceu estranhar a presença dos repórteres. O estilo das pessoas ali dentro era do mais diverso. Na porta da festa, a única exigência era para mostrar as identidades para confirmar se possuía a idade mínima de 18 anos para frequentar o local. Por estar localizada no centro de Brasília e próxima a rodoviária, esse é um bom cenário para quem não tem carro ou não quer enfrentar os estacionamentos vazios depois de uma festa, pela possibilidade de pegar um ônibus no início na manhã.


Diversidade


Nem só de boas recordações vive o Conic. A boate onde as Drags se apresenta é vizinha de parede com uma igreja evangélica. “Os nossos horários são totalmente diferentes, então o público não chega a se chocar. Só teve uma única vez mesmo… No mais, graças a Deus, nunca aconteceu nada… Nunca nem polícia...A gente sempre trabalhou nos conformes”, explicou Savanna, quando questionada sobre como era relação que a boate mantinha com uma igreja tão próxima.


A boate LGBT é vizinha de uma igreja evangélica. Atualmente a relação entre os espaços é saudável/ Foto: Regina Arruda
“Só teve uma vez que aconteceu um probleminha”, contou Savanna. “O pessoal estava se apresentando, com a casa cheia, e os pastores da igreja desligaram o gerador do Conic. Bateu polícia, foi muita briga. E o pessoal da igreja disse que ‘era safadeza’, que não podia”. Isso já tem mais ou menos uns cinco anos. E foi antes de eu me apresentar. Eu estava frequentando e presenciei tudo. Mas tudo bem… Águas passadas não movem moinhos!”

O segurança da boate, Juarez da Silva já trabalha no Conic há dois anos. Ele disse que já percebeu atitudes de preconceito a transexuais, Drag Queens e homossexuais que frequentam a boate. “A igreja quando começou, o pessoal que saia de lá não deixava eles (LGBT) ficarem aqui na frente. Já aconteceu de avançarem em muito deles ali dentro. Agora, hoje em dia tá muito calmo, mas isso aqui antigamente era muito pior”.

Por Bruna Goularte e Regina Arruda - Esquina Online

Conic - Consumo de crack diminui no local

Consumo diminui no Conic, mas aumentou em outras regiões/ Foto: Creative Commons
O Conic é conhecido por abrigar usuários de drogas, mas esta má fama diminuiu nos últimos anos.  Segundo o Procurador de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Território (MPDFT), José Theorodo Correia de Carvalho, o consumo de entorpecentes na região do CONIC reduziu, mas ele alerta para um novo ponto de consumo e tráfico. “Ocorreu uma migração dos usuários para o buraco do rato localizado no Setor Comercial Sul, ou seja, as pessoas não deixaram de consumir, apenas mudaram o local de uso.” Contou o procurar que se baseou nos processos que recebe do Ministério Público. 
Dados divulgados pela Policia Civil do Distrito Federal mostram a propagação do consumo do crack no Distrito Federal. De janeiro a setembro deste ano foram apreendidos 355,853 kg da droga, no mesmo período em 2013 foram recolhidos 148,936 kg . A análise dos números aponta um crescimento de 206,918 de um ano para o outro, o que significa um aumento de 138,9%.

Com base nos números de apreensões divulgados pela a polícia referente aos três primeiros trimestres de 2013 e 2014, além do crack, a maconha e o LSD também ganharam espaço no Distrito Federal. A maconha apresentou um aumento bem parecido com o do crack , de 136,6%, enquanto o LSD teve a propagação de 101%,9.

A cocaína como merla tiveram uma redução considerável na sua circulação no DF, a queda de 81,2% e 50,1% respectivamente. O número de frascos de lança perfume apreendidos diminuiu em 5.232 unidades em relação ao ano passado, o que significa uma diminuição de 99,2%, chegando bem próximo do grande objetivo de exclusão total deste tipo de droga.  O combate ao consumo do Ecstasy tem surtido efeito, apresentou uma redução de 97,7%, o que corresponde na redução de 2.121 comprimidos apreendidos.

Um limitação é a Secretaria de Segurança Publica do Distrito Federal não ter categorização das apreensões, por microrregião. Permitiria uma análise mais rica, para serem tomadas medidas que atendesse a especificidade de cada uma delas,  diminuindo o tempo demandado para ações e produzindo um resultado mais eficaz.

O Distrito Federal possui 16 Centro de Atenção Psicossocial, sendo 9 destes voltado para o atendimento dos dependentes do álcool e das drogas, sendo o serviço uma referência nacional. Dos 9 CAPSAD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), o do Plano Piloto, o da Asa Norte e o de Taguatinga realizam atendimento 24 horas.

Segundo informações concedidas pela a Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal são realizado em média por mês, 11 mil atendimentos em todos os Caps . Estes contam com uma equipe formada por enfermeiros, clínico-geral, psiquiatra, psicólogo, assistente social e terapeuta ocupacional.

Ao serem questionados sobre o número de pacientes nos CAPS oriundos da região do CONIC, a Secretaria de Saúde informou que eles possuem dados específicos referentes aos usuários daquela localidade, pois eles não tem como saber de onde os usuários do serviço vêm.

Com base nos números fornecidos pela gerente do CapsAD do Plano Piloto Maria Garrido, de abril até o último dia 22 de outubro foram realizados 1500 atendimentos, destes  apenas 1,8% eram usuários de apenas crack, a grande maioria são usuário de álcool associado ou puro. Sendo que 35% dos usuários eram do Plano Piloto (Asa Sul / Asa Norte), fez questão de ressaltar que não tem como saber a localizada exata.

Maria Garrido informou que no período de julho a meados de setembro, a Secretaria de Saúde realizou uma ação integrada no Setor Comercial Sul, na qual foram atendidos 800 usuários de álcool e drogas. Eles eram morados de ruas, passantes e usuários que buscaram atendimento por conta própria.

A gerente ressaltou “as pessoas tem dificuldade de assumir a doença, isso acaba interferindo na adesão do tratamento, muitos usuários do crack aderem ao tratamento perfeitamente, mesmo estando em situação de rua”. A prefeita do Conic, Flávia Portela, contou que a  sete anos, uma ONG patrocinada por uma grande estatal  levou um projeto de ressocialização de dependentes químicos para dentro do Conic, “a gente sabia que isso não ia dar certo” destacou. Os meninos iam para lá, tomavam banho, tomavam sopa e depois saiam tocando o terror pelo Conic. Foi um período muito difícil. 

Por Luiz Flávio - Esquina Online